15 de agosto de 2014

Histórias em Quadrinhos, "arte inferior" ou Literatura?



Na Numeração das Artes, as Histórias em Quadrinhos são classificadas como a 9ª Arte (imagem, cores, palavras). 

Os quadrinhos no Brasil: Embora esse meio já tenha sido mais popular no Brasil (e em outras partes do mundo), a partir dos anos 2000 voltou a ter um destaque maior na mídia brasileira! Surgiram as adaptações cinematográficas made in Hollywood, os grandes eventos que atraem jovens e adultos brasileiros aos milhares, maior atenção do governo com projetos de incentivo, novas editoras de olho no meio, e lançamentos de novos títulos, que resultaram no aumento das vendagens! 

No mundo moderno em que vivemos, são várias as mídias de entretenimento que concorrem com as revistas em quadrinhos, incluindo a Internet! Somando-se a isso, a falta de hábito que o brasileiro tem de ler, mais o preconceito que muitos possuem contra esse tipo de leitura, os quadrinhos ainda precisam lutar bastante pelo seu espaço no mercado! Hoje, boa parte dos leitores de quadrinhos são os adultos, público em que as editoras tem se focado cada vez mais com o lançamentos de graphics novels (termo para um formato que geralmente traz enredos longos e complexos, frequentemente direcionados ao público adulto), e publicações em formatos luxuosos próprios para livrarias. 

Alguns pedagogos, consideram os quadrinhos, uma "arte inferior" (talvez pelo simples motivo de não gostarem de ler esse gênero), mas ele tem recebido maior destaque, inclusive no meio literário! No Brasil, é comum ainda, muitos taxarem os quadrinhos de "coisa para criança, infantil", ignorando os vários estilos nesse segmento, que vão do clássico infantil "cartunesco" ao adulto "realista", da ficção às biografias e auto-biografias, das adaptações literárias às obras de jornalismo. Considerando-se que 80% do mercado de quadrinhos no Brasil é dominado pela Turma da Mônica, talvez os menos antenados encontrem aí, a impressão de que quadrinhos são apenas para crianças (mesmo que boa parte dos leitores da turminha sejam adultos que continuam lendo esses personagens)!

Os quadrinhos no mundo: Mas se por um lado, ainda existe uma grande resistência no nosso país (lembrando que a maioria dos que critica, nem ao menos gosta de ler), em outras terras, como na Europa, por exemplo, as Histórias em Quadrinhos já conquistaram o status de arte há muito tempo! Na Europa, existe o chamado mercado franco-belga de quadrinhos, que é visto com grande importância no continente. Para citar alguns exemplos, 1/3 dos franceses leem histórias em quadrinhos, mesmo que na França, elas sejam vendidas a preços mais altos, consequência do tratamento gráfico luxuoso que essas publicações recebem das editoras. Na Itália, as revistas em quadrinhos também são muito populares e é lá que está a maior produção de HQs Disney no mundo, e do gênero faroeste! 

No Japão, as revistas em quadrinhos, ou mangás, como são chamadas, também são populares e representam cerca de 40% de todas as publicações feitas no país. Entre os japoneses, as histórias em quadrinhos, ainda que grossas e semanais, são vendidas aos milhões e lidas tanto pelo público feminino, quanto pelo público masculino. Tanto pelas senhorinhas de 80 anos, quanto pelas crianças. Tanto pelos estudantes, quanto pelos executivos ou ministros.

Nos Estados Unidos, quadrinhos também são bem populares, sendo os super-heróis, os preferidos dos americanos. Lá, as revistas são inclusive, itens de grande valor entre colecionadores, e podem alcançar alguns milhões de dólares em leilões! Entre os atores de Hollywood, Nicolas Cage deve ser o que tem a coleção mais valiosa! Já o Barack Obama, é fã de Homem-Aranha e Conan!

Mas voltando à pergunta inicial, Histórias em Quadrinhos são "arte inferior" ou Literatura? Nem um, nem outro, afinal, não são classificadas como Literatura, mas são classificadas como Arte - uma combinação da Literatura (palavras), com a Pintura (imagens) - recebendo o seu devido valor e reconhecimento no meio artístico, e acreditem, também no meio literário!

E é aí que surge outra pergunta: Se não são Literatura, então como pode existir reconhecimento para os quadrinhos, no meio literário? Bem, talvez os exemplos abaixo, sejam suficientes para responder à esta última pergunta, pois veremos aqui, Histórias em Quadrinhos que, sem esperar, concorreram com grandes obras literárias e jornalisticas e ganharam os mais importantes prêmios do meio literário. Vale destacar que nenhum desses prêmios são destinados a Quadrinhos:

- Em 1991, Neil Gaiman e Charles Vess ganharam o World Fantasy Award, prêmio internacional que prestigia autores de ficção científica e histórias fantásticas em diversas categorias, voltadas para o formato literário! A HQ premiada foi "Sonho de uma noite de verão", publicada na edição 19 da revista em quadrinhos "Sandman".

- Em 1992, a biografia em quadrinhos "Maus" de Art Spiegelman ganhou um Prêmio Pulitzer, importante premiação norte-americana destinada aos trabalhos de destaque nas áreas de jornalismo, literatura e música.

- Em 2001, "Jimmy Corrigan: O menino mais esperto do mundo", de Chris Ware, ganhou o primeiro Guardian First Book Award concedido a quadrinhos. Esse é um importante prêmio literário pelo jornal britânico The Guardian. 

- Em 2005, a revista norte-americana Time incluiu "Watchmen", de Alan Moore e Dave Gibbons, entre os 100 maiores romances da língua inglesa desde 1923. Em 2006, foi a vez de "Fun Home, Uma Tragicomédia em Família", ser eleito o "livro do ano" pela revista Time.

- Em 2006, "O Chinês Americano" de Gene Luen Yang foi indicado ao National Book Award, uma das premiações literárias de maior prestígio dos EUA. Em 2009, o National Book Award indicou outra HQ, "Cicatrizes", de David Small, mas ambos não levaram o prêmio.

- Em 2007, a adaptação de "O Alienista", de Machado de Assis, por Fábio Moon e Gabriel Bá, foi premiada com o Prêmio Jabuti, o mais importante prêmio literário do Brasil. Embora não exista uma categoria para Histórias em Quadrinhos na premiação, mas em 2013, o Prêmio Jabuti abriu uma nova exceção e indicou mais três obras em quadrinhos.

Enfim, classificadas como Arte, as Histórias em Quadrinhos - ou Arte Sequencial - tem uma linguagem própria e conseguem atingir resultados que nenhuma outra arte conseguiria!

Abaixo, as capas de cada uma das obras premiadas. E algumas páginas extras de obras desenhadas ou coloridas nos mais variados estilos, com lápis, nanquim, tinta a óleo, guache, aquarela, canetas hidrográficas, Photoshop, etc.


Sandman. Ganhou o World Fantasy Award e foi publicado 
pela última vez no Brasil, pela editora Panini Books.

Maus. Ganhou o Prêmio Pulitzer e foi publicado no Brasil 
pela última vez, pela editora Cia. das Letras.

Jimmy Corrigan, o Garoto Mais Esperto do Mundo. Ganhou o Guardian 
First Book Award e foi publicado no Brasil, pela editora Cia. das Letras.

Watchmen. Eleito um dos 100 maiores romances - de 1923 
em diante - da língua inglesa pela revista Time, foi 
publicado pela última  vez no Brasil, pela editora Panini.

Fun Home, Uma Tragicomédia em Família, eleito o livro do 
ano em 2006 pela Time, e publicado no Brasil pela 
editora Conrad.

 O Chinês Americano (foto) e Cicatrizes. Ambos indicados 
ao National Book Award, e publicados no Brasil pelas 
editoras Cia. das Letras e Leya Brasil, respectivamente.

 O Alienista. Foi publicado pela editora Agir, e ganhou o 
Prêmio Jabuti, de literatura.

Da esquerda para a direita, o nome do título e de seu desenhista: Quando Eu Cresci (Tony Sandoval). No 
Brasil: Ed. Ática/ O Maravilhoso Mágico de Oz (Scottie Young). No Brasil: Ed. Panini/ Diosamante (Jean-
Claude Gal). Inédito no Brasil/ Asa Noturna (Jock). No Brasil: Ed. Panini/ Rose (Charles Vess). Inédito no 
Brasil/ Shenzhen (Guy Delisle). No Brasil: Ed. Zarabatana/ O Cão que Guarda as Estrelas (Takashi 
Murakami). No Brasil: Ed. JBC/ Princípe Valente (Hal Foster). No Brasil: Ed. Opera Graphica. 

Da esquerda para a direita, o nome do título e de seu desenhista: Recreio (João Montanaro). Ed. Abril/ 
Beasts of Burden Hill (Jill Thompson). Inédito no Brasil/ Construire un Feu (Christophe Chabouté). Inédito 
no Brasil/ Arzach (Moebius). No Brasil: Ed. Nemo/ Ás Inimigo, um Poema de Guerra (George Pratt). No 
Brasil: Ed. Abril/ Sin City (Frank Miller). No Brasil: Ed. Devir/ Batman, Guerra ao Crime (Alex Ross). No 
Brasil: Ed. Abril/ Theodore Poussin (Frank Le Gall). Inédito no Brasil.

Da esquerda para a direita, o nome do título e de seu desenhista: Où Le Regard Ne Porte Pas... (Olivier Pont). Inédito no Brasil/ Behemoth (Nic Klein). Inédito no Brasil/ Age of Reptiles (Ricardo Delgado). Inédito no Brasil/ Legend of the Scarlet Blades (Saverio Tenuta). Inédito no Brasil/ Love (Federico Bertolucci). Inédito no Brasil/ Blacksad (Guarnido). No Brasil: Ed. Panini/ Angela de la Morte ( Salvador Sanz). No Brasil: Ed. Zarabatana/ Canoe Bay (Patrick Prugne). Inédito no Brasil/ Forget Me Not (Tsuruta Kenji). Inédito no Brasil/ Le Sisters (William Maury). Inédito no Brasil. 


Da esquerda para a direita, o nome do título e de seu desenhista: L'ombre de l'ours (Michel Faure). 
Inédito no Brasil/ Vidas Imperfeitas (Mariana Cagnin). Ed. HQM/ Ken Parker (Ivo Milazzo). No Brasil: Ed. Cluq/ Pequeno Boule & Bill (Jean Roba). No Brasil: Ed. Nemo/ Mickey (Giampaolo Soldati). No Brasil: Ed. Abril/ Gigantomakhia (Kentaro Miura). Inédito no Brasil/ A Baleia Branca (Will Eisner). No Brasil: Ed. Cia. das Letras/ Conan, o Cimério (Greg Ruth). No Brasil: Ed. Mythos.


Fontes: http://www.educacional.com.br/ e http://www.blogdacompanhia.com.br/

Um comentário:

  1. Sempre foi um desafio classificar as histórias em quadrinhos justamente pq alia muitos tipos de linguagem. Na época do TCC pesquisei mto sobre classificação e cada autor/estudioso leva em consideração algum parâmetro mais que outros, por isso as diferenças. No caso de quadrinhos que venceram prêmios de literatura, até entendo porque. Foi levado em consideração a importância de uma obra que apesar de não ser escrita em forma de narração, tem um grande valor narrativo. Em um dos encadernados de Sandman tem uma frase "se isto não é literatura, nada mais é". Acho que tem a ver com ser uma boa história, independente do seu suporte, mas sendo uma HQ, tem um brilho especial e único. Eu já prefiro não me ater muito as classificações.. talvez algum dia quando quadrinho for tão relevante quanto a literatura, ela se sobressaia e seja apenas "Histórias em quadrinhos" e tenha o mesmo peso que Literatura ou Arte.

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